Dos meus motivos

É que tenho medo de sentar para escrever. Parece que esse gesto faz com que toda a vivacidade e fluidez de meus pensamentos mais lúcidos - que me vêm como uma torrente - se esvaiam e eu fique feito boba a segurar a caneta sem ter nada a oferecer ao papel. As palavras são traiçoeiras. Lembrei de uma aula de Semiótica em que o professor citou alguém, acho que foi o Pierce, e disse que as palavras amputam o pensamento. Às vezes concordo.

Angústia! A porra da gastrite tá querendo dar o ar da graça outra vez.

Acho que essa relação com a escrita advém do fato de que um dia quis ser escritora e de uma hora pra outra mudei de idéia, sem nenhuma resistência. Todo mundo quer ser escritor hoje. Talvez isso seja bom. Mas quando escrevo, o que quero com isso? Ser desvendada? Por que? Por que quero me sentir digna de olhares atentos, especulações até? Que vaidade há nisso? Ou será que quero me encontrar? Papo tão existencialista...

A Anna... Anna Wulf, personagem d´O Carnê Dourado, livro de Doris Lessing. Terminei o livro há dois dias, acho. Comecei em agosto, mas tive de parar a leitura por causa da correria do semestre. Prometo fazer uma resenha do livro pra colocar aqui. Confesso que me irrita o jeito como ela - Lessing - escreve. Objetiva demais ao tentar ser intimista, parece que as personagens e seus devaneios são apenas exemplos para ratificar o que a autora pensa. Acho que Virginia Woolf e Clarice Lispector são bem melhores. Mas a Doris tem umas tiradas... Trata de temas que me interessam sobremaneira. Tudo me é melancólico esses dias. Quando estou feliz não escrevo. Estou um pouco bipolar. Subjetividade afloradíssima. Tudo parece despedaçado; tudo é assim. Acho que as várias cadernetas de Anna são a metáfora pra isso – o sentimento que dizem ser reinante na nossa pós-modernidade.
A crítica da autora e da personagem ao Partido Comunista da Inglaterra é muito boa. E, embora eu seja anarquista, a desilusão de Anna com o PC me afeta profundamente. Tem um quê de “eu já sabia, é óbvio, os comunistas são mesmo estalinistas etc”, tem o regozijo de ter minhas posições reafirmadas, de pensar que escolhi lutar do lado certo, mas tem também uma sensação terrível... Não queria ler Nietzche numa hora dessas. Tenho algumas tendência ao niilismo. Quero tudo e nada. Me sinto um pouco esquizofrênica às vezes. “Serás feliz” - lembrei de Pip (Dickens, Great Expectations) e de Bentinho (Machado, Dom Casmurro, sempre tão vivo na minha cabeça, posto que adoro o livro, e esses dias um pouco mais presente devido à influência Global da qual dificilmente escapamos).
Queria a serenidade de uma criança – ou até mesmo aquela serenidade que muitos conhecem como uma das minhas principais características e eu discordo. Talvez escrever possa me ajudar a, pelo menos, compartilhar os sentidos...

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