Rasgo o meu coração

Depois escrevo alguma coisa sobre a peça, boníssima, genial, tocante.

Rasga o Coração(Anacleto de Medeiros / Catulo da Paixão Cearense)

Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
Refletindo a prismatização da luz solar
Rasga o coraçãoVem te debruçar
Sobre a vastidão do meu penar

Rasga o que hás de ver
Lá dentro a dor a soluçar
Sob o peso de uma cruz de lágrima a chorar
Anjos a cantar
Preces divinais
Deus a ritmar seus pobres ais

Sorve todo olor
Que anda a recender
Pelas espinhosas florações do meu sofrer
Vê se podes ler nas suas pulsações
As brancas ilusões e o que ele diz no seu gemer

E que não pode a ti dizer nas palpitações
Ouviu brandamente, docemente a palpitar
Casto e purpural .... vesperal
Mais puro que uma cândida vestal

Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
Refletindo a prismatização da luz solar
Rasga o coração.

No youtube.

Depois da tempestade, a bonança (????)

Dias atrás estava desesperada. Conflitos de fim de ano e fim de graduação. Felizmente sempre amei ler – pela explosão que isso provoca na cabeça, pela abertura de visão de mundo – e resolvi conhecer outras histórias, reconhecendo a pequeneza da minha.
Há alguns anos já tinha ouvido falar de Gen, pés descalços, a história em quadrinhos de Keiji Nakasawa, leitura obrigatória para quem quer conhecer HQ ou a história das bombas atômicas despejadas sobre o Japão – no caso de Gen, mais especificamente Hiroshima. Bom deixar claro, desde o início, que a história é contada pela ótica de uma criança, mas não é infantil. É profundíssima, inteligente, bem-humorada e ácida.
Bem, não pretendo fazer nenhuma resenha jornalística – isso demanda pesquisa, comparações com outras obras e não estou com muita paciência. Quero, como sempre, falar de mim. Falar de mim em tudo, até quando falo dos outros, quando falo dos livros, filmes e peças que vi.
É que Gen agora é parte de mim. E não há como não ser. É assim com os bons livros, aí é que está a graça, a beleza, a humanidade da leitura. Com o personagem – que sei ser o próprio Keiji Nakasawa, o que, pra mim, aumenta a força da historia – ri loucamente, explodi em lágrimas ou deixei-as rolar mansamente, como quem pensa que a vida é mesmo muito curta e cheia de armadilhas, mas também de boas e belas surpresas.
NUNCA vou esquecer as imagens de keiji. O jeito engraçado que as personagens comemoram, as músicas que as crianças cantavam, nas suas situações mais adversas. O choro, o de-ses-pe-ro. O horror! As pessoas queimadas, com a pele “escorrendo” de seu corpo repleto de larvas. A imagem sempre evocada do pai de Gen, o artesão convictamente antimilirista, de uma retidão de caráter que eu, sinceramente, queria pra mim. Pr´além disso, impressionou demais a relação dos japoneses com a morte – tudo bem, não quero generalizar e tenho de entender o momento por que passavam, em que não havia condições nem para chorar os mortos -: “O que pela alvorada é pele fresca e aveludado, à noite não passa de um saco de ossos”, diz mais ou menos assim o trecho do hino budista. Dos ianques monstros – “a cara vermelha e o nariz pontudo”, no imaginário das crianças que recebiam os chicletes jogados como esmola pelos norte-americanos.
Li em um dia os quatro volumes e no outro dia acordei lembrando de tudo, as imagens dançando na minha mente. Abri os olhos e pensei que o mundo é tanta coisa e eu sou tão pequena; que as pessoas conseguem ser tão boas e tão ruins... podem parecer clichês, mas quando sentidos e entendidos, doem pra caralho em toda sua simplicidade e verdade.
Sem muito tempo pra escrever, meu coração apenas bate mais rápido ao lembrar de tudo isso – sim, lembrar, como se eu tivesse vivido aquilo, pois a literatura tem o poder, penso, de transformar a memória de um em memória e experiência de todos, coletiva. É duro perceber que eu não escrevo tão bem quanto gostaria para compartilhar com todos e todas o que eu vivenciei exatamente com essa leitura, mas fica um quase apelo para que quem quiser pensar o mundo criticamente, pensar a violência e suas causas, a pobreza, a alegria, a superação, leia Gen, pés descalços.
Senti-me pequena e cheia de vida, cheia de responsabilidades para com o mundo e aqueles a quem amo. Contraditoriamente ou não, após a leitura de Gen.

Haicais para mim

Em uma faceta da minha vida.

Fora de mim
imagino na paisagem
a imagem do que fui
Alice Ruiz
***
Vida repensada
noite de insônia
–manhã cansada
Zezé Pina

Pacientes com leucemia denunciam situação difícil no Ceará

Com a campanha do menino Mateus Aquino, em 2007, houve um despertar dos cearenses para a questão do transplante de medula óssea e o aumento do número de cadastro de doadores à época. O Hemoce, que funcionava somente das 10 às 14 horas, de segunda a quinta, ganhou um horário extendido, o que possibilitou que mais pessoas se cadastrassem. Em 2008, o Ceará foi premiado pelo Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) devido ao número de cadastrados: 25 mil. Em 2009, a meta era, até julho, chegar aos 50 mil cadastros, meta superada, pois hoje o Hemoce conta com 53 mil cadastros. Dentre estes, já houve quatro casos de compatibilidade. Além disso, o transplante de medula óssea já está sendo feito no Ceará, desde o início deste ano.
Entretanto, ainda há muito a melhorar. E foi a partir da necessidade de se organizar para mudar a situação que os pacientes com leucemia, familiares e profissionais da área se uniram em torno do Grupo de Apoio ao Paciente Onco-Hematológico, o GAPO, criado em junho de 2007. O objetivo do grupo, que conta com 378 associados, é esclarecer dúvidas sobre a onco-hematologia, compartilhar informações, dar apoio psicológico aos pacientes e solucionar problemas de medicação. O GAPO se mantém, financeiramente, com doações de pacientes, simpatizantes e empresas. A atual presidente do grupo, Velúzia Medeiros, mantêm-se atuante desde o início. Ela fez o transplante de medula óssea em março de 2003 e é portadora de leucemia mielóide crônica.
Tiago Ribeiro também foi um dos fundadores do grupo. Aos 18 anos, teve um câncer entre o coração e o pulmão. Durante o tratamento, conheceu a namorada, Ana Paula, que tinha leucemia. “Eu fui cuidador e paciente ao mesmo tempo”, diz. Casaram-se e Ana Paula precisou passar pela terceira sessão de quimioterapia. A moça estava com o sistema imunológico muito frágil e faleceu com um AVC. Da história de amor nasceu a disposição de Tiago para pesquisar sobre o tema e tentar ajudar outras pessoas. Ele esteve presente na criação do GAPO e hoje, embora afastado, continua a dar sua contribuição, tentando divulgar o trabalho do Hemoce e contatar locais para a coleta itinerante.

Atendimento
Essa é a maior reclamação dos pacientes do Ceará. O atendimento é feito no Hospital Universitário Walter Cantídio, no CRIO, no Hemoce e também no Hospital César Calls. Além disso, há cinco hemocentros no interior do Ceará – Iguatu, Sobral, Crato, Quixadá e Juazeiro do Norte – o que, mesmo assim, não diminui a demanda para a Capital.
Segundo Velúzia Medeiros, “o tratamento é precário, de modo geral. São medicamentos de alto custo que nem sempre estão disponíveis em tempo hábil aos pacientes. Existe a lei, mas nem sempre o paciente consegue o remédio.” Para Tiago Ribeiro, o problema são os altos valores das patentes cobradas pelos laboratórios. Ele cita o caso dos medicamentos monoclonais, que atacam somente as células cancerígenas, o que representa um ganho valoroso para a saúde do paciente. Entretanto, no Brasil, na rede pública, não há esses remédios de “primeira linha”, apenas se a pessoa entrar com uma ação judicial, individualmente, e exigir isso do Estado, o que não quer dizer que ela vá ganhar.
Para se ter idéia do valor dos remédios, uma caixa, para 30 dias, pode chegar a custar 10 mil reais. Isso no Brasil, ou seja, um remédio de “segunda linha”. Tiago denuncia também que, dependendo do tipo de câncer, muitas vezes o paciente tem de trocar a medicação e, se o remédio for mais caro, o Estado não quer pagar. Em outubro, o secretário adjunto da Saúde do Estado do Ceará, Marcelo Sobreira, viajou a Brasília para tratar, junto ao Ministério da Saúde, da compra de um medicamento para o tratamento de 120 pacientes com leucemia. Esse remédio custa R$ 5.054,00 uma caixa/mensal. Desse valor, mil reais deveriam ser custeados pelo Estado, mas não há dinheiro, segundo Sobreira, e os hospitais não estão mais querendo receber os pacientes onco-hematológicos.
Segundo denuncia o GAPO, há um déficit de profissionais também. O correto seria uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais das áreas de Psicologia, Enfermagem, Nutrição, Terapia Ocupacional, Odontologia, Fisioterapia e Serviço Social.

Serviço:
Hemoce - Avenida José Bastos, 3390, bairro Rodolfo Teófilo. Fone: 3101.2296. Funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 18h30. Aos sábados, de 8 às 16 horas. Há um posto no Instituto José Frota (IJF), que funciona todos os dias, das 7 às 19 horas.
Para se cadastrar como doador de medula óssea - RG, CPF, ter entre 18 e 59 anos, gozar de boa saúde. Não há limitação de peso. O sangue é coletado e vai para o Rio de Janeiro, para o Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), onde é cruzado com o cadastro de pacientes que estão precisando do transplante, o Rereme (Registro Brasileiro de Receptores de Medula Óssea), para averiguar a compatibilidade. A chance de encontrar alguém compatível é de uma em cem mil cadastrados, no Brasil.Grupo de Apoio ao Paciente Onco-Hematológico (GAPO) - Rua Capitão Pedro, 1359, no Bairro Rodolfo Teófilo, em frente ao Hospital Universitário Walter Cantídio. Fone: 3223.2624. E-mail: gapoapoioavida@yahoo.com.br.