Pacientes com leucemia denunciam situação difícil no Ceará

Com a campanha do menino Mateus Aquino, em 2007, houve um despertar dos cearenses para a questão do transplante de medula óssea e o aumento do número de cadastro de doadores à época. O Hemoce, que funcionava somente das 10 às 14 horas, de segunda a quinta, ganhou um horário extendido, o que possibilitou que mais pessoas se cadastrassem. Em 2008, o Ceará foi premiado pelo Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) devido ao número de cadastrados: 25 mil. Em 2009, a meta era, até julho, chegar aos 50 mil cadastros, meta superada, pois hoje o Hemoce conta com 53 mil cadastros. Dentre estes, já houve quatro casos de compatibilidade. Além disso, o transplante de medula óssea já está sendo feito no Ceará, desde o início deste ano.
Entretanto, ainda há muito a melhorar. E foi a partir da necessidade de se organizar para mudar a situação que os pacientes com leucemia, familiares e profissionais da área se uniram em torno do Grupo de Apoio ao Paciente Onco-Hematológico, o GAPO, criado em junho de 2007. O objetivo do grupo, que conta com 378 associados, é esclarecer dúvidas sobre a onco-hematologia, compartilhar informações, dar apoio psicológico aos pacientes e solucionar problemas de medicação. O GAPO se mantém, financeiramente, com doações de pacientes, simpatizantes e empresas. A atual presidente do grupo, Velúzia Medeiros, mantêm-se atuante desde o início. Ela fez o transplante de medula óssea em março de 2003 e é portadora de leucemia mielóide crônica.
Tiago Ribeiro também foi um dos fundadores do grupo. Aos 18 anos, teve um câncer entre o coração e o pulmão. Durante o tratamento, conheceu a namorada, Ana Paula, que tinha leucemia. “Eu fui cuidador e paciente ao mesmo tempo”, diz. Casaram-se e Ana Paula precisou passar pela terceira sessão de quimioterapia. A moça estava com o sistema imunológico muito frágil e faleceu com um AVC. Da história de amor nasceu a disposição de Tiago para pesquisar sobre o tema e tentar ajudar outras pessoas. Ele esteve presente na criação do GAPO e hoje, embora afastado, continua a dar sua contribuição, tentando divulgar o trabalho do Hemoce e contatar locais para a coleta itinerante.

Atendimento
Essa é a maior reclamação dos pacientes do Ceará. O atendimento é feito no Hospital Universitário Walter Cantídio, no CRIO, no Hemoce e também no Hospital César Calls. Além disso, há cinco hemocentros no interior do Ceará – Iguatu, Sobral, Crato, Quixadá e Juazeiro do Norte – o que, mesmo assim, não diminui a demanda para a Capital.
Segundo Velúzia Medeiros, “o tratamento é precário, de modo geral. São medicamentos de alto custo que nem sempre estão disponíveis em tempo hábil aos pacientes. Existe a lei, mas nem sempre o paciente consegue o remédio.” Para Tiago Ribeiro, o problema são os altos valores das patentes cobradas pelos laboratórios. Ele cita o caso dos medicamentos monoclonais, que atacam somente as células cancerígenas, o que representa um ganho valoroso para a saúde do paciente. Entretanto, no Brasil, na rede pública, não há esses remédios de “primeira linha”, apenas se a pessoa entrar com uma ação judicial, individualmente, e exigir isso do Estado, o que não quer dizer que ela vá ganhar.
Para se ter idéia do valor dos remédios, uma caixa, para 30 dias, pode chegar a custar 10 mil reais. Isso no Brasil, ou seja, um remédio de “segunda linha”. Tiago denuncia também que, dependendo do tipo de câncer, muitas vezes o paciente tem de trocar a medicação e, se o remédio for mais caro, o Estado não quer pagar. Em outubro, o secretário adjunto da Saúde do Estado do Ceará, Marcelo Sobreira, viajou a Brasília para tratar, junto ao Ministério da Saúde, da compra de um medicamento para o tratamento de 120 pacientes com leucemia. Esse remédio custa R$ 5.054,00 uma caixa/mensal. Desse valor, mil reais deveriam ser custeados pelo Estado, mas não há dinheiro, segundo Sobreira, e os hospitais não estão mais querendo receber os pacientes onco-hematológicos.
Segundo denuncia o GAPO, há um déficit de profissionais também. O correto seria uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais das áreas de Psicologia, Enfermagem, Nutrição, Terapia Ocupacional, Odontologia, Fisioterapia e Serviço Social.

Serviço:
Hemoce - Avenida José Bastos, 3390, bairro Rodolfo Teófilo. Fone: 3101.2296. Funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 18h30. Aos sábados, de 8 às 16 horas. Há um posto no Instituto José Frota (IJF), que funciona todos os dias, das 7 às 19 horas.
Para se cadastrar como doador de medula óssea - RG, CPF, ter entre 18 e 59 anos, gozar de boa saúde. Não há limitação de peso. O sangue é coletado e vai para o Rio de Janeiro, para o Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), onde é cruzado com o cadastro de pacientes que estão precisando do transplante, o Rereme (Registro Brasileiro de Receptores de Medula Óssea), para averiguar a compatibilidade. A chance de encontrar alguém compatível é de uma em cem mil cadastrados, no Brasil.Grupo de Apoio ao Paciente Onco-Hematológico (GAPO) - Rua Capitão Pedro, 1359, no Bairro Rodolfo Teófilo, em frente ao Hospital Universitário Walter Cantídio. Fone: 3223.2624. E-mail: gapoapoioavida@yahoo.com.br.

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