Parte de mim

Tanto tempo sem dar as caras. Falta de Internet. Trago um texto que escrevi logo após a morte de Seu Manel, uma pessoa muito importante na minha vida, que me viu crescer e eu, infelizmente, vi morrer - na verdade, não fui ao enterro e nem pude vê-lo no hospital. Com certeza a minha rua 149 está bem mais triste e sem graça, sem o ar daquele senhor engraçado, sábio e, vamos lá, um pouco fofoqueiro, que falar da vida alheia às vezes é terapia rsrs. Tanta coisa por dizer... mais uma saudade pra pesar no meu peito.

8 de dezembro de 2009 – terça-feira
Mas eu me revolto contra a morte! Grito, choro, berro. Indago ao destino, com toda fúria, por que fazer isso com os que vão e com os que ficam. E ai de mim no dia em que não ligar mais; estarei adormecida em toda a minha humanidade, em todo o meu bem-querer pelos outros.
Seu Manel morreu. Morre uma parte da minha infância querida. Morre o senhor preto, de rosto e andar cansado, que estava sempre a “fofocar” na calçada ou a varrer a rua. Morre o homem, meu vizinho, que me deu um livro de presente assim que aprendi a ler – e eu nunca li esse livro, nem sei que fim levou, só lembro que era laranja. Mas na adolescência me deu a adaptação de Cyrano de Bergerac feita por Walcyr Carrasco, com a qual me deliciei de uma vez, em uma noite, ali pelos 12 anos. Morre alguém que eu sei que torcia por mim. Tenho guardados os bilhetes de quando passei no Cefet e na UFC. Morre o senhor lendário e misterioso, que teve um cachorro que viveu quase 20 anos, e o senhor que escrevia frases bonitas numa lousinha em frente à sua casa, para dizer a todos o que pensava e com o que concordava.
Sinto-me fracasso e covardia ambulante. Não fui me despedir dele. Iria numa segunda, ele morreu no domingo pela manhã. Podia ter ido mais cedo, podia ter ido assim que soube da doença, na quinta. Tava ate com medo de escrever, pois sabia da dor que seria remexida. Deve ter ido embora puto com os que o abandonaram. E eu tô no meio desses.
E as pessoas que acham a morte “normal” – uma normalidade desrespeitosa, indiferente, e não de naturalidade? Como as odeio! Como tenho vontade de dizer-lhes na cara: “e se fosse seu pai?!” e depois deixar ir uma enxurrada de xingamentos e murros.
Essa vida num vale nada mesmo. Nada e eu aqui, fazendo coisas que nem quero tanto. Vivendo assim assim. Mais ou menos. Sou imbecil.

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